DOS QUILOMBOS PARA AS TELAS:SEMINÁRIO CINEMA NEGRO BRASILEIRO

Cinema Negro

Por Dalila Brito

Realizado no dia 21 de julho, no auditório do Centro de Artes, Humanidades e Letras da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB, o II Seminário Cinema Negro Brasileiro, produzido por alunas e alunos negros, em parceria com o Cineclube Mario Gusmão e o Centro Afro carioca – Zózimo Bulbul, levantou discussões acerca dos conteúdos audiovisuais produzidos por mulheres e contou com uma programação diversa, valorizando as produções femininas em âmbitos que vão além das telas.

Participaram do seminário figuras como a cineasta e advogada Viviane Ferreira, e a produtora e também advogada Daniela Fernandes, que conduziram o debate sobre as políticas e burocracias intrínsecas na produção cinematográfica, que geram grandes obstáculos para cineastas negras. A exibição de filmes como Kabela e batalhas, de Yasmin Thayná, e Mulheres de barro, de Edileuza Penha Soares, deram ao evento diferentes recortes para retratar a trajetória e as dificuldades da comunidade negra. Sejam elas a partir da desconstrução dos padrões de beleza exibido em Kbela, nas histórias de trabalho e amor das mulheres de barro, ou dos sonhos alcançados por garotos de comunidades periféricas, que no caminho para a realização dos seus sonhos encontram uma polícia preta, mas, ainda assim, racista, que julga e oprime sem piedade. Ou ainda nas reflexivas imagens em preto e branco da produção de Cirlla Machado, em Enquanto os dias passam, o II Seminário Cinema Negro propôs um dia para a comunidade, não apenas acadêmica, analisar a sua presença e representatividade no cinema.

O caminho é árduo, falta apoio, falta oportunidade, mas o que nunca falta é a coragem para construir um caminho que leve ainda mais pessoas à visibilidade de um povo que resiste, assim como a primeira cineasta negra, Adélia Sampaio e pioneira na produção de um filme de longa-metragem com discussão de gênero e Valdineia Soriano, que resiste há mais de vinte anos, levando arte e cultura negra há milhares de pessoas junto ao Bando de Teatro Olodum.

Idealizado pela estudante de Cinema e Audiovisual da UFRB Beatriz Vieirah, o Seminário é fruto de inquietações e mazelas no curso que se localiza no palco da resistência negra. Com a adesão de outas alunas e alunos negros, em especial do curso, com intuito de fomentar o debate acerca da autorrepresentação da negritude na tela, apresentar histórias de cineastas negras e combater o racismo, o projeto saiu do papel no ano de 2016. Como todo começo, não foi fácil, faltam recursos e apoio, principalmente por parte da universidade. Na segunda edição, a produção foi contemplada por um edital da Pró-reitoria de Extensão-Proext e uma vaquinha online, que ajudaram a garantir junto à colaboração de alguns professores, a realização de mais uma edição do evento.

Mesmo com todas as dificuldades o objetivo é crescer e expandir os horizontes. Em 2017 o Seminário será anual, itinerante e nacional, passando pelo Centro Afro Carioca, no Rio de Janeiro, além da atividade em Cachoeira e, contará com oficinas. Pensando também nos novos estudantes que irão ingressar no curso, para que possam ter mais contado essa cinematografia, readaptem seus olhares perante as telas.

DALILA BRITO é graduanda de Jornalismo da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia e Assessora de Comunicação do Seminário Cinema cinema Negro Brasileiro.

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