Por Taís Moreira
TERCEIRO DIA – NOITE
Sexta feira, dia 11 de novembro, às 21 horas, começa a quarta mostra competitiva do Panorama internacional Coisa de Cinema. Novamente, dois curtas e um longa foram exibidos depois da vinheta que, como já foi dito, exalta as obras de Hector Babenco. Desta vez não consegui distinguir um tema tão claramente comum entre os três filmes programados para a noite.
O documentário Baleia magic park, de Mariana Lacerda, é um curta de 12 minutos que relata os diferentes momentos de uma estação baleeira situada no litoral da Paraíba. Contando com depoimento de um antigo funcionário e fotografias, vai mostrando um pouco da história do lugar que inicialmente servia para receber as baleias e retirar seu óleo, e depois se transformou em um clube recreativo na região. O diretor de fotografia, Marcelo Lacerda, irmão da diretora, relatou a relação que ele e a realizadora mantinham com o espaço e com a região onde a produção foi realizada.
Logo depois veio o curta A Moça que dançou com o diabo, de João Paulo Miranda Maria. O filme acompanha o dia a dia de uma jovem que vive num ambiente conservador e muito religioso, porém decide uma noite sair para dançar. Confesso que o final me pegou de surpresa… No entanto, senti que a cena final poderia ter sido bem mais elaborada. A produtora do curta, Fernanda Tosini, presente após a sessão, falou sobre o tema folclórico de Rio Claro, no interior de São Paulo, que inspirou o filme. Na lenda, a personagem vai até uma festa e dança vulgarmente com um homem mascarado, que ao final se revela a própria figura do diabo. Alguns moradores do lugar acreditavam na veracidade dessa história e o grupo Coletivo Kino-Olho, coordenado por João Paulo Miranda Maria, resolveu adaptar o “causo” para os dias atuais e fez essa obra vencedora em Cannes do Prêmio Especial do Juri.
O último filme foi o documentário Um casamento, de Mônica Simões. Um longa-metragem familiar, que rememora o casamento da mãe da realizadora, ocorrido na década de 50, em salvador BA, utilizando fotos e filmes antigos para construir uma narrativa feita de memórias. Maria – o nome da personagem real – agora com 80 anos nos conta sua história conduzida pelas perguntas da filha, que se coloca de forma explícita dentro da realização. Os efeitos do tempo transparecem através das entrevistas, mas também a partir dos objetos representados dentro do antigo sobrado de quase um século de existência – casa onde nasceu e viveu desde seu nascimento.
Apesar de parecer mil maravilhas no início, a narrativa vai deixando alguns indícios de que aquele casamento não lembrava nada um conto de fadas. Não durou mais do que seis anos e a própria Maria revela que nunca esteve em seus planos levar uma vida de mulher casada. De uma certa forma sua postura contrariava o ponto de vista da família “burguesa”do período e, nesse sentido, o filme ajuda a entender como a mulher e a instituição casamento se construíram dentro da sociedade baiana de meados do século passado