XII PANORAMA INTERNACIONAL COISA DE CINEMA

SEGUNDO DIA

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Fotos: Pedro Maia

Por Matheus Leone

A mostra competitiva do segundo dia do XII Panorama em Cachoeira começou duas horas depois do programado. Talvez para aproveitar a presença do realizador Thiago B. Mendonça, a exibição do seu longa Jovens infelizes ou um homem que grita não é um urso que dança, assim como a do curta Ruby de Luciano Scherer, Guilherme Soster e Jorge Loureiro, foram antecipadas de domingo para quinta-feira – juntos, Jovens Infelizes… e Ruby possuem 54 minutos a mais do que os dois filmes anteriormente programados para o Panorama Brasil do dia, Impeachment e Animal Político, que provavelmente serão exibidos no domingo.

Mendonça estava presente com outro filme, este dentro da competição, o curta Procura-se Irenice (dir.: Marco Escrivão e Thiago B. Mendonça. 25’), sobre a atleta olímpica Irenice Maria Rodrigues e o trágico apagamento da sua história, no contexto da ditadura militar. A adoção de um linguagem mais tradicional de documentário, não muito distante de uma reportagem – e, não por acaso, patrocinado pela ESPN Brasil –, transforma “Procura-se Irenice” em um corpo estranho em meio a tantos outros filmes de aspirações mais avant-garde, mas nem por isso pouco efetivo dentro de sua proposta. Os cineastas reuniram depoimentos de pesquisadoras e pessoas do passado de Irenice, morta na década de oitenta, vítima de um acidente de trânsito, para tentar desvendar o que há detrás da cortina de fumaça que impediu uma atleta recordista dos 800 metros rasos (“realiza a prova em tempo ‘anormal’ para uma mulher” é como relatam os meios de comunicação da época) de competir nas Olimpíadas de 1972.

Voltando para o cinema-poesia, corpo estranho no mundo e lugar comum dos festivais, o segundo curta exibido em competição na noite foi Abigail (dir.: Isabel Penoni e Valentina Homem. 17’). É sabido que os filmes do Panorama são selecionados para conversarem entre si e, assim como Procura-se Irenice, Abigail é sobre as memórias e o passado de uma mulher que já morreu. A codiretora, Isabel Penoni também estava presente na sessão e comentou a experiência de tentar capturar a presença da mulher que dá título a seu filme, assim como de sua relevância em vida ao lidar com duas culturas marginalizadas – dos indígenas e das religiões afro-brasileiras.

Finalizando a mostra Competitiva Nacional do dia, o mais recente longa da produtora cearense Alumbramento: O Último Trago (dir.: Luiz Pretti, Pedro Diógenes e Ricardo Pretti. 98’). Mais uma vez Diógenes e os irmãos Pretti repetem o ritmo lento de uma quase não narrativa, típico de seus filmes anteriores como Estrada para Ythaca e Os Monstros. O que difere O Último Trago dos outros dois é o que também o torna superlativo em comparação aos seus predecessores: desta vez existe um apuro estético notável na fotografia que por si justifica os tempos mortos, apenas para que se admire as composições de luz e sombras, os corpos em silhuetas. O folheto com as sinopses dos filmes acusa “O Último Trago” de trazer três histórias sobre luta contra opressão, além de outros detalhes sobre como elas se relacionam entre si e sobre o que é cada uma delas – sendo que a temática do segundo dia, sobre mulheres, passado e investigação da memória, também está presente ligando os segmentos. Essas informações, porém, não apenas são difíceis de captar sem o auxílio do material de apoio, como também são irrelevantes para a experiência do filme, que, por sua vez, parece bem mais interessado na construção encapsulada das cenas do que na relação entre elas.

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