O PREFEITO

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Por João Marciano Neto

Com um toque demasiadamente teatral, O prefeito é uma comédia quaresmesca de premissa curiosa, mas apresentada com um didatismo exagerado dentro do monólogo retrospectivo do personagem de Nizo Neto. Com esta afirmação elegantemente fútil aqui redigida podemos concluir que o longa entregue por Bruno Safadi não é exatamente dotado de qualidades únicas e notoriedade, é um filme mediano que consegue entreter em certos momentos, mas que causa a sensação de que seria bem melhor recebido se fosse encenado num teatro uma vez que todos seus elementos se aproximam muito desta modalidade. Nizo Neto segura nossa atenção mais com seu carisma do que com a simpatia pelo personagem ou o interesse em sua jornada quixotesca repleta de piadas já esperadas sobre política e nacionalismo ideológico fatalmente fadados a decadência de uma memória e de uma esperança de grandeza. A fantasia impregna com o delírio absurdo a narrativa, o que não facilita exatamente a aceitação de sua lógica interna. Propostas interessantes, cutucadas pontuais, mas que pouco comunicam e se fazem ouvir.

Fora a mise-en-scène de palco, o filme ainda faz uso de fotomontagens como flashbacks artificiais, mais até que toda a construção no presente. O prefeito força analogias e metáforas, busca uma profundidade que não tem e somente revela certo valor em seu descontraído e descompromissado tom. Dentre todas as obras presentes na competitiva do festival, esta, decerto, é a obra com menos problematizações e igualmente a mais rasa, com leituras entregues e direcionadas pelas falas do personagem delirante e de um apelo quase infantil. Como uma criança no playground, protagonista e diretor deixam entender que a brincadeira dentro daquela realidade fantasma e em demolição nada mais é do que um jogo lúdico para se repetir os mesmos antigos discursos, as mesmas críticas e a mesma visão utópica que vem sendo parodiada e escrachada desde Lima Barreto. O triste fim de O prefeito é 5% de passado, um presente de projetos com intenções bem maiores do que a realidade materializa e um futuro um tanto incerto que para muitos não faz a menor importância. Em tempos de descrédito político, com as passadas e fracas reivindicações separatistas nas redes sociais e revoltas com o atual governo, não seria de se espantar que cruzemos com outra figura ambicionando se tornar estátua.

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