Essa entrevista foi realizada dentro do Projeto de Pesquisa Cinema Musical na América Latina, coordenado pelo Professor Doutor Guilherme Maia, onde foram planejados pequenos vídeos para abastecer o Site do Laboratório de Análises Fílmicas da UFBA. Participaram da entrevista, além de Guilherme Maia, Guilherme Sarmiento, André Félix e Artur Dias.
Transcrição: João Marciano Neto
Qual a sua relação com os musicais?
Fontoura: Quando eu era garoto eu frequentava o Little Club, em Copacabana, onde Sérgio Mendes tocava. Eu era fanático por jazz. Todo domingo de tarde tinha jam sessions no Little Club e eu não perdia de forma alguma. Isso foi meu primeiro contato com a música e, enfim, eu sonhava ser um músico de jazz. Era um desastre, mas eu tinha dois amigos: o Cumbuca, que era um pianista e que ainda está vivo, e o João Palma, que para mim é o maior baterista da bossa-nova. Eu carregava a bateria do João Palma quando ia para os shows. Quer dizer, então eu me sentia assim: muito do meio. Depois meu contato com a música continuou no colégio onde eu estudava. A Nara Leão e o Menescau eram da mesma turma… Não, eram do mesmo grau em turmas diferentes. Então eu ia muito no apartamento da Nara, via um pouco da cena da bossa-nova na casa da Nara… Enfim, estou falando dos contatos extramusicais.
Interessante que antes de fazer cinema eu meio casualmente já estava fazendo musicais. Eu tinha feito um primeiro filme, “Heitor dos Prazeres”, que é um músico. Heitor dos Prazeres era um músico e um artista ingênuo, um artista naif, um artista plástico. Então meu primeiro documentário foi sobre ele. Fiquei encantado com aquela pessoa que morava na Cidade Velha que não existe mais… Na Cidade Nova, destruída por causa do metrô, num cortiço onde as cabrochas faziam comidas maravilhosas, Heitor dos Prazeres cantava…
Pois é, você está falando dessa relação com a música no início da carreira… Isso construiu sua ponte com os musicais?
F: O cinema musical não entrou logo na minha vida, quer dizer. Meu primeiro filme de ficção foi o “Copacabana Me Engana”, onde a música é muito importante, mas é sobre um garoto de Copacabana procurando… Que não sabe o que vai fazer da vida, enfim. A relação dele com a turma, com a mulher da janela da frente, era um filme sobre a minha esquina e foi um filme surpreendente porque fez um milhão de espectadores, né? E eu não sabia o que ia fazer com aquilo, nem pensava que ia ter espectador pro filme. Foi uma experiência muito rica e a partir daí dei uma parada, eu não estava preparado para fazer sucesso. Eu tinha um projeto, “A Cangaceira Eletrônica”, que seria meu filme posterior ao “Copacabana Me Engana”, que é um musical passado em Brasília. Quer dizer, um musical fantástico, era um grupo de cangaceiros que ao mesmo tempo eram cantores de rock, uma maluquice total e o Jards Macalé fez a música e a Gal ia ser a “cangaceira eletrônica”, mas o filme não aconteceu.
No “Espelho de Carne” foi uma coisa sensacional. Eu convidei pra fazer a música o David Tygel – ele nunca tinha feito música de cinema, só fazia música de teatro – e, por acaso, quando foi a hora de fazer a trilha, o Miles Davis estava tocando aqui. Foi no final, já naquela banda “multi” dele. Eu e o David fomos aos dois shows no Canecão e recebidos por ele no camarim. O percursionista dele era o Steve Thornton, que é um percursionista sensacional. Nós convidamos o Steve pra tocar na trilha do “Espelho de Carne”. Então o Steve ia pro estúdio com toda aquelas percussões e, vendo a imagem, improvisava em cima. Em “Rainha Diaba”, que não é um filme musical, porém a música tem um papel importante para a narrativa. Eu participei na própria trilha, da feitura da trilha musical, realizada porGuilherme Vaz, de Brasília, e o Bruce Henry, que é superconhecido – é baixista, cantor e tudo – tocava no filme.
Nessa época eu convivi muito com Gal, com Caetano, Gil…Um baiano morava na minha casa, que era o Waly Salomão. Eu tinha um apartamentozinho ali em Ipanema e ele tava sempre lá. Tinha muito contato com essa turma, por eles fiquei conhecendo os Novos Baianos e aí fui produzir, não como cineasta, como produtor e diretor, alguns de seus shows. Fiz o primeiro show dos Baianos aqui no Rio que era o “Novos Baianos no Final do Juízo”.
Depois fui conviver com eles naquele circo, naquele apartamento em Botafogo em que o João Gilberto ia todo dia tocar violão pra botar todo mundo pra cantar. Fiz um segundo show deles no João Caetano, que já era aquela fase mais regional onde cantavam “Acabou Chorare”, “Enquanto Corria a Barca”, “Preta Pretinha”, aquelas coisas todas. A música sempre foi um diferencial para mim porque sempre fui muito ligado em música, muito apaixonado por música.
Apesar de ser um país com músicos maravilhosos, o Brasil tem poucos musicais se comparado, por exemplo, aos Estados Unidos. A que se deve isso?
F: Bom, é… Isso que você colocou de que como um país tão musical como o Brasil não faz os musicais tradicionais realmente é uma coisa intrigante, não é? Porque… Enfim, do ano dois mil pra cá estão pipocando biografias musicais, ou documentais ou ficcionais: Cazuza, Raul Seixas, Tim Maia… Mas são filmes em que a música está integrada dentro da trajetória do músico, ela é um subproduto da vida do músico. Você disse “porque tem tantos nos Estados Unidos”… Os Estados Unidos têm bastante filmes sobre esporte. Por que não tem no Brasil bons filmes sobre futebol ou qualquer outra coisa? Existe uma certa… Não acho que seja uma falta de interesse, não. Eu fiz um filme sobre futebol infantojuvenil,“Uma Aventura do Zico”, mas é uma raridade. É um gênero meio desprezado no como o musical clássico…
Não seria porque há um preconceito com o musical? Você pega essa geração do Cinema Novo, uma geração meio reativa à chanchada…
F: É, mas essa geração já passou, né? Por que a garotada não está fazendo? Porque perdeu um pouco da força, mesmo nos Estados Unidos você não vê muitos musicais. Ficou meio um gênero off, como o western também. Agora parece que começaram a fazer filme de cangaceiro no Brasil, acho que seria fundamental, que deveria ter dezenas com uma história tão rica. Mitologia tão rica, arte tão rica. É a mesma coisa na música. O que eu sinto falta é de histórias inseridas realmente no contexto musical onde o roteiro, a narrativa… A música é parte essencial da narrativa, quer dizer. Não que no “Somos Tão Jovens” não seja, mas a gente procurou encaixar a música… Estudar as músicas que o Renato fez no período da juventude dele, quase no período pré-Legião, ainda que a Legião tenha incorporado muitas delas. Mas na verdade, elas estão ali porque o Renato criou as canções em algum momento de sua vida. Não é um “Guarda Chuva do Amor”, onde se conta uma história cantada.
No “Somos Tão Jovens” tem uma coisa que é muito nova no cinema brasileiro, que é de um filme onde o ator canta realmente no filme. Queria que falasse um pouco sobre o processo do “Somos Tão Jovens” de mexer não só com a questão musical, mas também abordar a vida de um ídolo como Renato Russo.
F: O Renato Russo caiu do céu para mim, quer dizer, eu não queria fazer um filme sobre o Renato Russo. Não estava na minha agenda. A ideia foi de Luiz Fernando Borges, que era musicista e depois se tornou empresário musical. E por acaso ele era um dos melhores amigos do Renato aqui no Rio. Ele, a Denise Bandeira, era de um grupo que se reunia com o Renato pra ver cinema. Eles tinham um cineclube ASA – Amigos da Sétima Arte –, e o Luiz Fernando ficou muito amigo do Renato. Depois de quatro anos de sua morte veio me procurar para fazer uma proposta. Ele tinha conseguido permissão da família para realizar um filme sobre sua vida. Eu me encantei com a ideia de fazer, mas, desde o começo, quando eu comecei a pesquisar a vida do Renato, eu falei: não quero fazer um filme clássico sobre rock. Um roqueiro famoso, infeliz, quebrando hotel – que ele teve esse momento na vida, momentos muito difíceis. Eu falei: quero fazer uma coisa sobre o nascimento de um artista, o nascimento de uma temática, o nascimento de uma música. De um tipo de música. E aí eu descobri, pesquisando na internet, o Renato em Brasília: a Turma da Colina, as bandas punk, o Aborto Elétrico, o Capital Inicial, Plebe Rude, todas essas bandas e aí eu falei que era sobre essa turma que eu queria fazer o filme. Eu fui conversar com os rapazes do Capital Inicial, com Dinho, com o Flávio Lemos, e quem me deu esse toque foi o Fê Lemos: “esse filme só vai ser legal se for sobre a turma. O Renato amava a turma, a gente era uma turma e essa música era uma música da turma e que surgia no Renato”. Então isso, desde o começo, para mim, era um filme de garagem. Uma banda de garagem. Era um filme sobre bandas de garagem, quer dizer, além de ser um filme sobre o Renato.
E a trilha? Fala um pouco sobre como foi a seleção e o arranjo das músicas.
Quando surgiu a ideia de fazer a música, a primeira pessoa que procurei foi o Dado. Fez “Mandrake”, música pra cinema. Aí o Dado falou: “Não. Não quero fazer, meu envolvimento é muito grande. Eu era um membro da banda, ainda que o filme não seja sobre o Legião. Eu acho que você precisa de uma outra pessoa. Você tem que chamar o Carlos Trilha”, que eu não conhecia. Aí eu fui procurar o Carlos Trilha, fiquei encantado. Ele tem um grande estúdio aqui, ele é hoje em dia maestro da Marisa Monte, grava todos os roqueiros independentes do Brasil. Quando procurei o Trilha ele falou: “Cara, é o maior presente que a vida já me deu você me chamar pra fazer isso”, porque ele amava o Renato. Ele tinha feito os dois discos solos do Renato. Aquele passado em Nova York…
The Stonewall Celebration.
F: Isso. O disco italiano também. Então… Ele era apaixonado pelo Renato e ele me falou: “Olha Fontoura, eu faço. Agora… Vamos fazer ao vivo?” Eu falei: “Como”? Ele disse: “Cada vez que tiver um número musical eu levo a minha equipe de show, monto todos os alto-falantes, ensaio os músicos que vão tocar…”. Ele perguntou: “Ou é ator ou é músico que vai representar?” alguns, por acaso, o Bruno Torres – que faz o Fê Lemos – é baterista. Então ficou ótimo, ele é ator e baterista. O Dalsin era guitarrista. Aí eu comecei a descobrir uma coisa: todo o elenco jovem que eu chamei – um elenco de vinte e um, vinte e dois, vinte e três anos – sabia de cor todas as músicas do Renato. De noite, no hotel, era uma loucura. O oitavo andar do Hotel Nacional era um show. Eles abriam as portas todas e ficavam tocando a noite inteira até de manhã. Não sei como é que filmavam no dia seguinte. Eu tenho muitas coisas que gravei com IPhone do pessoal cantando. Era uma paixão pela música do Renato que contagiou o filme e acho que funcionou melhor porque foi ao vivo. Quer dizer, nas músicas todas… Todas elas, a gente colocava os microfones, o Trilha afinava os instrumentos – porque eles sabiam tocar, mas não sabiam afinar – passava um pouco com eles as músicas. O Thiago entrou no Renato através da personalidade, não foi um trabalho de dramaturgia, foi um trabalho de música. Ele foi aprendendo a cantar que nem o Renato.
Como o Trilha trabalhou muito com o Renato, ele dizia o gestual…O guitarrista que ensaiou o Thiago pra tocar guitarra era o guitarrista de apoio da Legião. Ele teve um professor pra pegar a embocadura do Renato, pra fazer o mesmo tipo de timbre. Isso foi um trabalho fascinante, quer dizer, pra mim foi um barato fazer esse filme não só pela história dramática – vamos ter que contar a vida daquele garoto e os problemas e felicidades e infelicidades dele –, mas principalmente utilizando a música. Por proporcionar um momento musical verdadeiro porque a figuração era toda garotada de Brasília. Eles não achavam que estavam num filme, estavam assistindo a um show da Aborto Elétrico. Então era de verdade tudo, entende? Não tinha playback, em nenhum momento. Muita gente percebeu e veio me falar: “Cara, você fez ao vivo? Você é maluco?” Na verdade, quando o Trilha me propôs eu falei: “cara, a molecada vai ter que aprender a tocar tão bem quanto eles”? Ele me tranquilozou:“Não, vão ter que aprender a tocar tão mal quanto eles tocavam naquela época”.
Como foi a liberação de direito das músicas? A marca Legião Urbana está em disputa na justiça, não? .
F: Eu tive um apoio muito grande da família do Renato. O Julian era muito jovem e eu realmente não trabalhei com o Julian ao longo desse filme. Ele foi umas duas vezes na filmagem, mas não era ele ainda o detentor dos direitos e sim a mãe e… Quer dizer, era uma sociedade lá que se chamava, se não me engano, Legião Urbana que era dirigida pela mãe e pela irmã, Carmem Teresa. E elas me deram um apoio maravilhoso o tempo todo, me facilitaram muito, inclusive na questão da aquisição de direitos. E também setenta por cento das músicas no filme são apenas do Renato. Por exemplo, “Faroeste Caboclo” é só do Renato,“Eduardo e Mônica”, “Cedo”. Das vinte canções do filme, pelo menos quatorze são exclusivamente do Renato. O público acha que são músicas da Legião Urbana porque muitas foram gavadas no terceiro disco da banda. No primeiro LP tem músicas do Renato, mas já com a colaboração do Dado e do Bonfá. Aí eles começaram a tocar juntos, todos colaboravam com as canções, mas a ideia era do Renato. O caderninho dele, onde ele anotava os conceitos, as ideias, meio letra, meio poesia que inicialmente ele mesmo musicava e depois, com a entrada dos meninos, passou a ter a colaboração do grupo. No terceiro disco eles decidiram voltar a origem, aí a maior parte das músicas era do Aborto Elétrico e a música do Aborto não teve a participação do Dado e do Bonfá como autores. Alguma ou outra tem do Fê, do Flávio, com quem a gente teve que negociar também. Mas a questão dos direitos foi espantosamente simples, assim, o mais complicado, quer dizer, o direito de imagem… Que é uma coisa central nesse tipo de filme. Então tive que adquirir os direitos, adquirir negocialmente, direitos de imagem do Renato, do Flávio Lemos, do Fê Lemos, do Dinho, do Bonfá e do Dado.
Como foi escrever o roteiro do filme “Somos Tão Jovens”? De que maneira você pensou essa relação entre música, contexto e narrativa?
F: Sobre a questão do roteiro, quer dizer, o roteiro inicial do filme é meu e do Luiz Fernando Borges, que me trouxe a história. Aliás, não se chamava “Somos Tão Jovens”, era um nome que depois eu abandonei: “Religião Urbana”. Porque no começo, quando a gente começou a pensar, não era um filme só sobre Brasília, mas sobre o Legião Urbana. Aí tinha essa piada de que eles eram uma religião, mas aí tem até um episódio interessante. A mãe do Renato, a Dona Carminha, marcou um jantar aqui com a gente no Rio e falou: “Meu filho, eu faço tudo que você quiser pra ajudar o seu filme, mas tira esse nome”. Eu perguntei o porquê, ela falou: “Porque meu filho dizia que ele nunca foi padre ou pastor, nem nada, que era uma sacanagem chamar a banda dele de religião”. Eu falei: “Tá ótimo, dona Carminha. A senhora tem alguma ideia”? Aí ela falou: “Não é sobre a garotada de Brasília? Chama de ‘Somos Tão Jovens’.” Aí que o filme começou a chegar na sua verdadeira feição. Nesse momento eu era o produtor, o diretor e o roteirista do filme. A Fox se interessou muito pelo projeto e um dos pedidos que ela fez foi que eu não fizesse o roteiro final. “Você já está envolvido demais com isso, fazendo muita coisa no filme”. Aí convidei o Marcos Bernstein, que é um excelente roteirista, além de fã da Legião. Quando o convidei, o roteiro já estava estruturado, mas eu falei: “Marcos, mexe a vontade. cria, incorpora”. Porque já havia saído também um livro muito importante sobre o Renato, de um escritor de Brasília, Carlos Marcelo,“Renato Russo – o Filho da Revolução”. Isso ajudou muito o Marcos a balizar o roteiro pelas músicas, e uma ideia que já era do roteiro original de usar o “Ainda é Cedo” como um motivo do filme. Foi umas das primeiras músicas dele que dizia “uma menina me ensinou quase tudo o que eu sei”. Então isso permitiu que entrasse uma personagem feminina fundindo as amigas, as namoradinhas que o Renato teve nessa fase da vida.
Como é realizar um musical no Brasil? Como não se tem uma tradição muito forte, achar atores não é difícil?
F: Eu acho que agora é mais fácil, porque o que tá proliferando de teatro musical… O filme musical americano é um subproduto da Broadway. Quer dizer, eu acho que o musical americano começou antes nos teatros e depois foi pro cinema. Al Jolson cantando com a cara pintada de preto, os grandes musicais, boa parte – até virarem um gênero próprio – do musical americano foi um musical da Broadway transposto para a tela. Eu acho que está começando aparecer uma linhagem própria de musicais teatrais brasileiros. Por conta disso existem muitos atores qualificados: cantando, dançando, interpretando nessas peças… Eu acho que está chegando toda uma geração que poderá ser extremamente eficaz e útil em musicais cinematográficos. Hoje já não acho que seja um desafio tão grade assim você fazer um musical. O que dificulta é que o mercado de cinema brasileiro é muito pautado por gêneros. O gênero da moda é a comédia, o filme biográfico – de alguma maneira eu me instalei nele também –, ou então o “filme cabeça”.
Conte um pouco sobre sua relação com os documentários musicais.
F: Eu tive duas experiências com documentários musicais nos anos setenta. Eu e o David Neves, que era um grande amigo meu. Nós críamos uma produtora chamada Pop Filmes, com o objetivo de fazer filmes de música. A nossa ideia era fazer todo o repertório da Gravadora Phillips. O primeiro filme que eu dirigi nessa linha foi o “Gal”. É um clipe. Acho que é o primeiro videoclipe feito no Brasil, são três músicas: “Divino Maravilhoso”, “Meu Nome é Gal” e “Chega de Saudade”. Começava com “Chega de Saudade”, ia acompanhando ela enquanto cantava … Depois Os Mutantes apareceram, né?
A gente viu um show fantástico dos Mutantes aqui no Rio, com Gil e Caetano, no Sucata. Eu fiquei enlouquecido com Os Mutantes. Eu, o Calmon e o Renato Neumann, que era o câmera, passamos um dia percorrendo São Paulo com Os Mutantes. Eles vestidos de Mutantes, com aquelas roupas e fazendo mil maluquices, brincadeiras e tudo. Chegamos a produzir um terceiro, mas quem dirigiu foi o Paulo Veríssimo, que era sobre o Jorge Ben. Íamos começar a percorrer a trilha toda quando a Phillips, da Holanda, disse que não ia ceder mais os artistas pros filmes. Aí parou ali.
Também teve “Chorinho e Chorões”, que é a história do chorinho brasileiro. É um filme bem didático, assim, sobre o conjunto Época de Ouro. Tem Paulinho da Viola tocando, tem o conjunto da Época de Ouro, tem o Altamiro Carrilho…Enfim, música sempre esteve bem perto de mim.
E João Gilberto? Não chegou a fazer proposta…?
Ô…! [risos] Eu falo com João Gilberto de vez em quando, vocês acreditam? Porque meu filho, Daniel Fontoura, é produtor de locação. É top produtor aqui e ele é amigo do João Gilberto. Consegue ser amigo de todo mundo. Aí o João Gilberto liga pro Daniel, às vezes, e o Daniel passa pra mim. Aí eu converso com o João pelo telefone: “Ô João, quando é que eu posso ir aí? Posso ir aí jantar com você?”.João é muito imprevisível, mas é maravilhoso.
É o documentário que falta, né?
É… Eu acho difícil ele fazer. Ele é muito arredio nesse sentido. Tem uma menina, acho que a mãe do filho dele, que andou filmando ele em super 8 ou em uma dessas camerazinhas… Mas ele nunca deixou alguém colocar luz, um bom som, uma boa câmera e fazer uma coisa com ele. Aí duvido que deixe, viu. Não acho… Eu adoraria, mas… É, depende aí do acaso.