SEGUNDO DIA – MOSTRA COMPETITIVA
Flávia Novais
A segunda noite de mostra competitiva no CachoeiraDoc deu o que falar. Isso porque a sessão foi repleta de emoções e reflexões diante dos filmes exibidos, cujo assunto foi comunidade LGBT.
A sessão começou com muitos aplausos e prestígios diante do filme que estava prestes a ser exibido, o curta Corposstyledancemachine, de Ulisses Arthur, estudante de cinema da UFRB. Alunos do CAHL e a comunidade cachoeirana estavam ansiosos para assistir.
O documentário trata de uma grande figura de Cachoeira, o famoso Tikal, homossexual e conhecido por sua grande desenvoltura e suas vestes exóticas. A construção do documentário, que tem Marvin Pereira como produtor, foi relacionado com um cenário de festa, discoteca, muitas luzes e fumaças, acompanhada de relatos sobre Tikal, no qual ele fala a maneira que ele enxerga a vida, os preconceitos vindos da família, sociedade e a resistência cotidiana. Interessante que as cenas escondem o rosto de Tikal, com uma mistura de luzes e fumaças, o que dá um ar de mistério. Nesse ambiente, o protagonista do documentário diz no final do filme “Ando por mistério, vivo por mistério… Nosso corpo é uma máquina, ou cuida ou sabe como é, né?”. O filme se encerra com uma performance de Tikal, com uma música embalante, que contagiou e arrepiou o público no Cine Theatro Cachoeirano.
Vando vulgo vedita é um curta de Andréia Pires e Leonardo Mouramateus, que retrata momentos de vários jovens LGBTs. Talvez esse seja o único filme em que muitas pessoas saíram da sessão, se perguntado várias coisas, interpretando o filme da maneira que os convêm ou até mesmo entendo a linguagem do filme. Os diretores não estavam presentes na sessão, o que deixou a interpretação do filme vaga. Sua linguagem é muito pessoal, envolvendo as fantasias que os personagens extravasam. Todos eles têm cabelos loiros e vivem em conjunto. Tem suas sexualidades assumidas e prezam por uma vida de liberdade e muita loucura. Isso é nítido quando dois deles estão assistindo a uma animação (Dragon Ball Z) na TV e decidem recriar a cena da maneira mais realista possível. Depois, quando aparecem na praia, um dos personagens aparecem com os olhos machucados, porém feliz, causando estranhamento na plateia. Ali os jovens brincam, cantam “Vampiro Sexual” de maneira a libertar o espírito, explorando a vida e o momento como se não houvesse amanhã. A última cena intensifica esse desnorteamento ao simular uma abordagem policial violenta, sendo esses policiais os próprios protagonistas, talvez como uma maneira de satirizar a ação dos agentes de segurança.
O último filme da sessão, Meu corpo é político, de Alice Riff, um longa que muitas pessoas da sessão estavam ansiosas para assistir. Filme de reflexão e conhecimento da vida cotidiana de quatro pessoas LGBTs. O documentário tem como objetivo relatar a luta por afirmação desses personagens, que sofrem constantemente preconceitos, principalmente por se tr
atar de pessoas trans, negras e pobres. Segundo a diretora do filme, a intensão foi respeitar os espaços dos protagonistas e de mostrar a realidade de uma periferia trans; foi um documentário bem produzido, que fez o público enxergar, refletir e sentir na pele aquilo que uma pessoa LGBT periférico passa todos os dias.
Os três filmes têm a mesma proposta, mas com uma abordagem diferente, a experiência de assistir e compreender a intenção de cada documentário foi esclarecedora. Talvez respeito e resistência definiriam a sessão ou por completo a VII edição do CachoeiraDoc, com a necessidade de informar, progredir e interver situações de urgência social.