COBERTURA CACHOEIRADOC OITAVA EDIÇÃO

TERCEIRO DIA – MOSTRA COMPETITIVA

Por Denise Cláudio

No terceiro dia do festival de documentários de Cachoeira, na sessão das 17h, foram exibidos três filmes, Historiografia, Anamnese e Escolas em luta, sendo os dois primeiros curtasmetragens. Diferente da sessão das 17h do dia anterior, a do dia 08 exibiu filmes que mostravam uma resistência menos “dócil”, cheia de ataques e denúncias. Mas, além do tema principal do festival, um ponto em comum entre as três obras é o foco no ensino, não necessariamente em seu sentido formal, mas o de aprender com a prática e com pesquisas feitas que vão além das matérias obrigatórias das escolas ou universidades, privilegiando a passagem de conhecimento e troca de informações.

Primeiro filme da sessão foi Historiografia. Com apenas 4 minutos de duração é simples e direto. Mostra que não se precisa de muito tempo para se passar uma mensagem completa. Começa já nos explicando o que seu título significa: segundo o Google: “substantivo feminino; a arte e o trabalho do historiógrafo; estudo e descrição da história”, e segue apresentando imagens de quadros famosos, que ilustram a maneira como as mulheres foram apagadas da história por conta do machismo, com uma narração extremamente sarcástica. Mas sem, é claro, deixar de mostrar o quanto os homens são sempre tão “incríveis”.

Em seguida assistimos Anamnese, um filme que expõe o racismo que existe dentro das universidades brasileiras, coletando relatos de jovens pretos que estudam medicina. Além das dificuldades enfrentadas em entrar em um curso elitista, os jovens, depois que são matriculados, tem de lidar com a objetificação dos seus corpos, como quando uma das jovens relata que, quando trançou seu cabelo, os colegas começavam a tocá-lo sem permissão, chegando ao ponto de puxá-lo. Outro relato, que também me chamou atenção, foi de um jovem gay que enfatiza que quando nota que seu comportamento incomoda, sua tendência é exagerá-lo ainda mais como provocação. Todos esses relatos acontecem enquanto prontuários são preenchidos com frases de figuras negras famosas e hospitais em condições precárias.

Outro aspecto que é muito bem pontuado em Anamnese é o fato da pouquíssima representatividade negra dentro da medicina, e agora eu lhe pergunto: Quantos médicos negros você conhece? E quantos enfermeiros negros? O racismo no Brasil é tão naturalizado que muitas vezes pessoas brancas, eu me incluo nisso, não tem a sensibilidade para ver quão urgente se fazem as mudanças, e o problema não está só na educação defasada que ajuda a perpetuar esse ciclo, mas toda a violência que ocorre com o povo negro, seja ela direta ou indireta.

O terceiro e último filme da sessão foi Escolas em luta, que narra as ocupações dos secundaristas em São Paulo por conta do fechamento de 94 escolas e a realocação dos alunos. Ao todo foram 241 escolas ocupadas durante a chamada primavera estudantil. O filme em si é composto tanto por gravações feitas pelos estudantes – que eles coletaram fazendo uma chamada publica no Facebook – , como pela equipe do filme em si.

Um dos pontos altos em Escolas em luta é a ênfase da participação feminina na liderança das ocupações, contrapondo-se ao que vemos no primeiro filme da sessão, que mostra a falta de visibilidade das mulheres. De uma forma geral, a ordem dos filmes cria uma espécie de ciclo que começa com a invisibilidade da mulher, passa pelos problemas do povo negro, e, por fim, mostra a juventude se rebelando contra as injustiças cometidas pelo governo, quebrando pelo menos um pouco essa ordem de opressão.

 

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