TERCEIRO DIA-MOSTRA COMPETITIVA
Por Yann Waize
Independente do juízo de valor que isso possa gerar, a VIII edição do CachoeiraDoc se renova este ano. O festival tem se demonstrado mais engajado politicamente. Isso não é uma crítica ao parnasiano, mas sim uma alusão ao fato de que um ano após o golpe e ao renascimento de uma direita conservadora, o festival não se furtou a ser um gerador de reflexão.
Na Mostra Competitiva do dia 08, às 14 h, os filmes apresentados eram: Admin admin, do coletivo Feito a Facão, Balança Brasil, de Carlos Segundo, Terminal 3, de Thomaz Pedro e Marques Casara, e Latossolo, de Michel Santos.
A sessão inicia-se com Admin admin, que, por meio da reprodução de uma montagem bem estruturada do material bruto de várias câmeras de segurança (que tem seu fácil acesso disponível ao público) se propôs a debater as questões da vigilância do “Grande Irmão”. Lembrando questões do livro de Orwell, Augusto Dautro, um dos autores do filme ressalta como “(…)se inicia com um discurso de vigiar o patrimônio para proteger as pessoas, mas, na verdade, acontece o inverso”.
Balança Brasil, de Carlos Segundo, por exemplo, nos apresenta uma realidade de resistência nordestina negra. Dividindo a narrativa em duas partes, o dançarino e o guia, o movimento e o intelecto, o curta perpassa em meio de uma narrativa despretensiosa, gerando um discurso de resistência da cultura africana no Brasil.
Ao fim, os dois últimos filmes dialogam num microcosmo. O retrato-denúncia de uma relação de escravidão moderna de trabalhadores de chão de fábrica capitalista de Terminal 3, ganha contexto quando, a seguir, Latossolo se propõe à reflexão, também, da ocupação absurda do solo do cerrado do extremo oeste baiano. Os dois filmes relativizam o capital e a vida humana. Um num recorte particular e outro num sociológico. A opressão capitalista representada pela OAS e pelos latifundiários dialogam harmoniosamente, apesar de pertencerem a contextos supostamente distintos.
É tolice acreditar que “política” se resume a uma esfera representativa democrática e não algo ligado à coisa pública, ao viver num ambiente social. Seja no que toca às questões da representatividade das minorias ou no que tange as relações trabalhistas nesse sistema capitalista massacrante. E a reflexão possibilitada pela curadoria do Cachoeira Doc é, acima de tudo, um ato político.