XIII PANORAMA INTERNACIONAL COISA DE CINEMA – ENCERRAMENTO

Yann Waise

Dia de encerramento. A sala vazia da última sessão competitiva não é sintoma algum da qualidade dos filmes. Peito vazio, Mamata e Antônio um dois três3 filmes de qualidade inegável tanto na fotografia quanto na montagem; qualidade essa que foi apreciada por poucas pessoas. Talvez por uma questão que desconheço a organização do festival preferiu antepor a sessão à mostra “Sessão Especial”, que ocupou as 18h – ou talvez tenha sido apenas um desleixo inocente. Triste.

Peito vazio, filme pernambucano de Yuri Lins e Leon Sampaio, retrata uma história de amor, ou o que restou dela, ambientada no Conjunto Habitacional da Muribeca – 69 prédios que começaram a ser demolidos pelo risco de desabamento. Mesclando a tensão particular e pública, o curta-metragem segue firme, levando o relaciomento colapsado e o estado político conflituoso atual do país. Com um gosto desgostoso, nenhum dos âmbitos termina bem. Ao fazer uma alfinetada regional, o filme não se furta ao questionar o papel e a situação pernambucana na luta política e na desgraça comum.

Se fosse pra relacionar um tema aos três filmes, necessariamente a desgraça teria que ser evocada mais cedo ou mais tarde. Mamata, de Marcus Curvelo, é um grande “rir pra não chorar”. O filme descreve a trajetória de Joder, um rapaz desiludido que tenta angariar uma quantidade de dinheiro para se mudar para os Estados Unidos e assim, morar com a namorada. Depois de tentativas frustradas, e uma recusa implicita da namorada, Joder percebe-se numa posição de ruína, cogitando até mesmo trair seus princípios para conseguir sair da situação em que se encontra. Apesar das ressalvas, o filme traz consigo os mesmos problemas narrativos que seu semelhante, A bruta flor do querer, trouxe em 2013: um protagonista que se diz constantemente “fodido”, desesperado – beirando à falência – continua dirigindo seu carro, morando em seu apartamente de pequeno burguês numa capital.

Assemelhando-se em grande grau com o filme anterior, os dois âmbitos, político e particular também são evocados. O interessante é perceber que, diferentemente de Peito vazio, Mamata ironiza a si mesmo e a tudo que lhe rodeia – como se a vida fosse uma grande piada de mal gosto. Com uma montagem perspicaz, não se faz cansativo os monólogos – em grande quantidade.

Fechando com elegância, vem por último o primeiro longa do diretor cearense Leonardo Mouramateus. Após êxito em seus últimos curtas, Mouramateus arrisca, e arrisca muito, em Antônio Um Dois Três. O filme é uma roupagem europeia do potencial que o cinema brasileiro pode oferecer de fresco em suas veias.

O curta traz três histórias, ou melhor, três universos paralelos, de Antônio, um alfacinha. Junto a montagem, o roteiro é um dos pontos mais fortes do filme. Os diálogos, principalmente os que não carregam o peso pretenciosamente dramático, são, algumas vezes, sublimes – seja na mudança drástica de rumo em um bobo teatro de meia, ou em uma piada sombria, e inocente, do pai.

Três belos filmes que puderam ser vistos pela multidão de 13 adultos e uma criança extrovertida.

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